Fonte: Monetar

5 sinais de que problemas financeiros ameaçam seu casamento

Traição financeira, silêncio, manipulação, desemprego: como são os conflitos do bolso que ameaçam o coração

 

Problemas financeiros e conflitos por causa de dinheiro são normais entre os casais. Mas a partir de que momento eles se tornam preocupantes a ponto de se tornarem sinais de desgaste da relação? Crises financeiras familiares podem indicar o fim da relação?

Desde que foi criado, o casamento esteve ligado à preservação do patrimônio, do poder e do status das famílias.

No século 19 e principalmente no século 20, o casamento passou a ser mais encarado como fruto do amor do que de objetivos financeiros e patrimoniais.

No entanto, a partir do momento em que as mulheres passaram a marcar presença mais forte no mercado de trabalho, os temas dinheiro e casamento voltaram a se unir, mas não da mesma forma que antigamente.

Não que antes as finanças não causassem atritos no casamento. Mas com a idealização romântica dos relacionamentos, dinheiro se tornou um assunto tabu entre os casais, uma vez que as pessoas eram cobradas a se importar com o amor, e não com o dinheiro.

Ao mesmo tempo, as mulheres não geravam renda nem tinham autoridade, dentro dos relacionamentos heterossexuais, para dar a palavra final sobre as decisões financeiras.

Agora é mais comum que homens e mulheres trabalhem, gerem renda, tomem decisões financeiras e administrem recursos. Alguns problemas mudaram de natureza, novos problemas surgiram, mas ao menos o tabu começou a cair e o tema é mais discutido.

“Hoje os temas dinheiro e casamento são inseparáveis. Quando se fala de casamento, falar de dinheiro é tão importante quanto falar de sexo e carreira”, diz a psicóloga Cleide Bartholi Guimarães, autora do livro “Até que o dinheiro nos separe”.

Diferentes visões de mundo

Conflitos por causa de dinheiro em geral têm origem nas diferenças entre a forma como as famílias de cada membro do casal veem as finanças. Muitas vezes, essas diferenças de olhar já começam a aparecer no namoro, se tornando mais evidentes com o passar do tempo.

Um vem de uma família mais econômica, o outro de uma família gastadora; um vê as dívidas como forma de crescer, o outro tem horror a ficar devendo; um vem de uma família em que os investimentos são mais conservadores, o outro teve pais mais arrojados, e por aí vai.

“Se eu venho de uma família mais perdulária, eu acabo me sentindo no direito de continuar sendo assim no meu relacionamento. Isso vai se revelando no dia a dia e prejudicando a relação”, diz o psicólogo Thiago de Almeida, especialista nas dificuldades do relacionamento amoroso e autor de livros sobre o tema, como “A arte da paquera”.

Segundo Cleide Guimarães, lidar com os problemas financeiros é mais fácil quando os cônjuges têm experiências familiares mais próximas. Mas quando as famílias têm visões muito distintas sobre como gerar renda, gastar e investir, aí a coisa complica.

Veja a seguir cinco sinais de que os problemas financeiros (que geralmente não são apenas financeiros) estão prejudicando o relacionamento:

1. Dinheiro é usado como instrumento de poder e manipulação

Haver grande disparidade econômica entre os cônjuges por si só não é um problema. Essa diferença se torna um problema quando o principal provedor usa seu poderio financeiro para tentar controlar e manipular o outro.

Para Cleide Guimarães, esse é um dos principais sinais de que o relacionamento está sendo ameaçado pela questão financeira. Isso pode ocorrer, por exemplo, com casais em que apenas um dos cônjuges trabalha, ou em que um ganha muito mais que o outro.

Pode acontecer, por exemplo, de o principal provedor achar que tem o direito de tomar todas as decisões financeiras sozinho, que as despesas do outro não são prioridades, ou mesmo fazer chantagens e “jogar na cara”.

Já no outro pode surgir um grande ressentimento, que provavelmente vai virar uma bola de neve.

2. Ocorrem traições financeiras

As traições financeiras ocorrem quando um esconde do outro questões financeiras importantes, como dívidas, a perda do emprego ou grandes gastos.

Há quem mantenha contas, negócios e investimentos escondidos do parceiro, com medo de que ele queira uma fatia. Fora as pessoas que mantêm uma segunda família.

“Quando começa o processo do divórcio, quem tem o poder econômico, as propriedades, começa a ‘ficar mais esperto’ e a tentar esconder uma vida paralela”, exemplifica Guimarães.

Exemplos mais extremos de traição financeira são as compras compulsivas e o vício em jogo, compulsões que podem destruir as finanças de uma família e que requerem tratamento médico e psicológico adequados.

Os segredos podem ser considerados traição uma vez que derivam da falta de confiança, além de poderem criar a distorção de um rico e um pobre convivendo sob o mesmo teto.

Mas não só isso: muitas vezes, a falta de transparência representa uma quebra no contrato de casamento ou de união estável.

No Brasil, o regime padrão das uniões é a comunhão parcial de bens. Ele prevê que rendimentos e bens adquiridos durante a união sejam para o bem comum, o bem da família. Portanto, pertencem a ambos, relação esta que exige muita confiança e honestidade.

3. Quem está incomodado fica em silêncio

O silêncio de quem se sente incomodado, oprimido, controlado ou que está desconfiado de que o outro mantém segredos é também um sinal de que a relação está se desagregando, acredita Cleide Guimarães.

“Se um dos dois sente que aquela situação não é adequada, mas se cala para manter um falso equilíbrio na relação, aquilo pode virar uma bola de neve”, diz a psicóloga.

O resultado pode ser a gota d’água que faltava para afundar de vez a relação: uma reação explosiva e imprevisível daquele que fica calado e despeja tudo no outro.

4. Um não trabalha e se sente mal; o outro mantém a casa e se sente sobrecarregado

Um casal pode optar por apenas um dos dois trabalhar e ser muito bem resolvido com isso. Uma perda de emprego é algo a que qualquer pessoa está sujeita, e pode ser temporária e enfrentada de forma saudável.

Mesmo algo mais trágico, como uma doença grave ou invalidez que impeça um dos dois de trabalhar pode ser enfrentada com amor e paciência pelo casal.

O sinal amarelo para a relação se acende quando a pessoa que não trabalha se sente mal por isso e/ou a pessoa que trabalha se sente sobrecarregada. “Isso pode ter reflexos até sexualmente”, alerta Guimarães.

Ela conta que viu casos de homens que ficaram muito deprimidos com a perda do emprego, e a solução encontrada pelas esposas foi deixá-los administrar o dinheiro que ela ganhava no trabalho. No entanto, a psicóloga não sabe afirmar se essa é realmente a melhor solução.

Segundo ela, no fim das contas o que importa é como o casal administra suas diferenças – se com respeito, diálogo e cordialidade, ou se com competitividade, falta de empatia e violência verbal.

5. O casal não consegue chegar a soluções harmônicas para os problemas

A resolução dos atritos por causa de dinheiro e a manutenção da saúde do relacionamento normalmente passam pela forma como o casal lida com os problemas em geral.

Até porque está bem claro que os problemas financeiros dos itens anteriores não têm só a ver com o dinheiro. Alguém que usa o dinheiro para manipular o outro ou que se cala diante dos problemas certamente tem outras questões mal resolvidas.

Se a relação tem respeito e valorização mútua, com diálogo aberto e claro, sem mentiras ou omissões, o casal tem chances de resolver seus problemas financeiros mesmo quando já começam os sinais de desgaste na relação.

“Se o casal consegue tratar as diferenças com o mínimo de respeito, ele consegue encontrar caminhos para as problemáticas de dinheiro, torna-se uma coisa comum”, diz Cleide Guimarães.

A psicóloga exemplifica com a questão do desemprego ou de uma doença que impeça um dos dois de trabalhar.

“É óbvio que o desempregado ou adoentado não vai se sentir muito confortável com aquela situação, mas se o relacionamento for bom, ele vai saber que o outro não vai abandoná-lo. As medidas adotadas serão saudáveis, e o casal vai tirar um proveito daquilo. Se a situação for definitiva, a família inteira vai se reorganizar, cada um sofrendo do seu lado, mas é perfeitamente possível”, acredita.

Por outro lado, se faltam comunicação, honestidade, respeito e empatia, mas sobram competitividade e violência verbal, é bem possível que a relação termine mesmo, e mal. “Um ou outro vai se sentir sozinho dentro da relação, vai ficar amargo”, diz.

No caso da traição financeira, por exemplo, ela acredita que o melhor, no relacionamento é manter tudo em aberto, uma vez que o casal fez um contrato de parceria.

“O problema é que as diferenças podem acabar sendo incontornáveis, e se fizer um trabalho mais profundo, o casal vai ver que já havia outros indícios”, diz.

Para Thiago de Almeida, o principal sinal de que a relação vai mal por causa de dinheiro é justamente quando o casal não consegue mais chegar a uma relação harmônica para os conflitos.

“Cada um se agarra ao seu ponto de vista para se proteger, nem é por querer desabonar o argumento do outro”, diz.

Nesses casos, diz o psicólogo, o aconselhamento profissional pode ser a melhor saída. “Se não se chega a um consenso, é preciso analisar de outra forma”, diz.